Questão que gera inúmeras controvérsias na Umbanda é o fato dos guias e entidades que se manifestam através de seus médiuns utilizarem-se do fumo e de bebidas, o que leva alguns críticos da religião a classificarem-na como “baixo espiritismo” e estarem os espíritos que nela atuam em grau evolutivo inferior. Tal assertiva não passa do mais errôneo entendimento do que acontece na liturgia da Umbanda. Através de uma análise histórica, pode-se verificar que diversas são as religiões que se utilizam da bebida em seus fundamentos. Na mitologia Grega, o Deus Zeus juntamente com uma mortal de nome Semele, deu origem a Dionísio, o Deus do vinho e, os romanos com a expansão de seus costumes pela Europa inteira, deram fama a Baco, o equivalente romano ao Deus do vinho grego. Com o Cristianismo, o vinho também mostra sua importância, desde o momento em que Jesus brindava o amor do Pai Celestial repartindo o vinho com seus apóstolos e seguidores. Até os dias de hoje a Igreja Católica compartilha o pão e o vinho entre seus fiéis, representativos ambos na eucaristia do corpo e do sangue do Cristo. Na África, o vinho de palma é usado em diversos cultos, sendo considerado néctar divino. O mesmo se verifica nos cultos ameríndios e xamânicos, onde os pajés se utilizam de bebidas para realizarem seus rituais, como o caso da cerimônia da Ayahuasca. Seguindo a tradição difundida culturalmente entre os povos, a Umbanda não é diferente. O fato de utilizar o álcool em seus rituais nada tem de inferioridade ou primitivismo, visto que essa substância tem um significado claro e repleto de fundamentos. O mesmo ocorre com o uso do fumo. As entidades e guias da Umbanda utilizam-se dos elementos que compõem o álcool e o fumo para realizarem seus trabalhos de limpeza e purificação, tanto do consulente, como de ambientes. De que forma fazem isso?

O álcool

O álcool, em sua essência, é líquido proveniente da cana-de-açúcar, extremamente volátil, assemelhando-se ao éter, representando elemento que facilmente transcende do plano material para o etéreo, sendo excelente auxiliar para desfazimento de energias negativas impregnadas no períspirito. Além do mais, é fogo em estado líquido, pela sua facilidade de combustão.
O álcool ainda possui a propriedade de ser usado como “contraste”, quando a entidade age magnetizando a bebida e faz o consulente ingeri-la em pequena quantidade, permitindo-lhes visualizar o seu organismo, mostrando algum problema que deve ser cuidado. Funciona também, como elemento antiséptico para limpar e desinfetar regiões que estejam sendo tratadas pelas entidades em seus atendimentos. Não se pode deixar de citar que o álcool ainda propicia no organismo do médium um entorpecimento de suas faculdades, facilitando com isso o trabalho das entidades, proporcionando-lhes mais liberdade de ação durante o processo de incorporação, já que libera no corpo do médium substâncias ativadoras do cérebro que atuam nos plexos nervosos, aproveitadas pelas entidades em seu trabalho no plano material. Muitas pessoas condenam o uso do “marafo” (álcool, aguardente, whisky, destilados) pela falange de Exus e Pombogiras. Dizem que essas entidades estão extremamente atrasadas evolutivamente e ainda ligadas ao plano terreno, necessitando desse elemento para satisfazerem seus vícios. Nada mais errado, também. A energia, como já se explicou é usada e manipulada como pelas demais linhas de trabalho da Umbanda em sua magística. Exus e Pombogiras por estarem em faixas vibratórias mais próximas do ambiente terreno utilizam-se da energia retirada desses elementos para realizarem seus trabalhos magísticos. Usam o álcool contido nas bebidas para descarregos, retirando energias negativas dos médiuns, do ambiente ou dos consulentes. A bebida é usada no ponto riscado, na tronqueira, nas ferramentas de Exu, etc. verifica-se nos terreiros, também, a bebida sendo usada antes de uma gira de Exu, sendo passada nas mãos e braços dos médiuns para baixar a vibração e facilitar a conexão entre o espírito incorporante e a matéria do médium. O mesmo ocorre com a linha de trabalho de baianos, marinheiros e outros, tendo esses a fama de gostarem de um “traguinho”. Na verdade, essas linhas vêm manifestando-se assim pela vibração que carregam quando da incorporação, nada tendo de embriagadas. A título de conclusão, deve-se ainda dizer que o álcool ingerido pelo médium também é dissipado no trabalho, ficando em quantidade reduzida no organismo após haver a incorporação.

O fumo

Por sua vez, o fumo é vegetal que traz o elemento terra e água, em sua composição e, os elementos ar e fogo quando utilizado na defumação. Conjuga, portanto, quando usado pelas entidades de Umbanda, os quatro elementos básicos – terra, fogo, ar, água -, além do elemento vegetal nos trabalhos de magia. O fumo é utilizado como meio de descarrego, agindo sobre os chacras dos consulentes. O fumo é utilizado como componente para defumação, onde conjuga o fogo e a fumaça para a destruição dos campos magnéticos negativos, vinculados tanto à obsessões quanto à feitiços realizados contra o consulente. Assim, o que as entidades da Umbanda fazem é utilizarem ervas, juntamente com os elementos água, fogo e ar para realizarem suas magias e defumações, desestruturando larvas astrais, miasmas e desagregando energias negativas e danosas à aura do consulente. O fumo tem suas características vegetais, tendo através do seu processo de desenvolvimento na natureza arregimentando as mais diversas energias e substâncias – sais minerais, hidrogênio, oxigênio, fósforo, potássio, nitrogênio, vitaminais – do solo onde foi cultivado e do meio ambiente, além da absorção da energia solar e lunar, razão pela qual condensa forte carga energética de impregnações etéreas que libera durante a sua queima. Se prestarmos atenção na atitude das entidades incorporadas, veremos que enquanto estas fumam, estão constantemente jogando baforadas da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro sobre aquele que com eles se consulta. Não tragam a fumaça, apenas enchem a boca com a fumaça e a expelem sobre o consulente ou para o ar. Para quem não sabe, nessa hora está sendo realizado verdadeiro passe, onde a defumação se conjuga com o sopro para realizar a limpeza energética da aura ou perispírito da pessoa. Pode-se verificar que as entidades podem realizar seu trabalho sem a utilização desses elementos sem qualquer problema. Mas, poder-se-ia dizer, se elas existem e comprovadamente têm o seu significado, por que se abster de usá-las? O que deve ser deixado de lado é a associação de seu uso como indicativo de inferioridade. A título de curiosidade, devemos ressaltar que os Guias de Umbanda dependendo da linha em que realizam seu trabalho, não se utilizam dessas ferramentas, sendo que podemos encontrar a mesma entidade realizando o mesmo trabalho, mas em outra linha vibratória, sem se valer desses elementos em situações específicas, mas não deixando de ser a mesma entidade. De uma forma ou de outra, vai realizar seu trabalho e não vai ser mais ou menos evoluída por isso. O que deve ficar entendido é que a entidade incorporada quando realiza o sopro da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro, dando suas baforadas nos consulentes, cria com isso as condições, tanto no plano físico quanto espiritual, para a realização da magia da Umbanda, tudo sob o aval dos espíritos de luz e dos Orixás. Só o sopro em si carrega efeitos terapêuticos e espirituais poderosos, mas quando aliados à erva tem seu efeito potencializado, gerando resultados positivos como se observam nos terreiros de Umbanda. A dinâmica, portanto, deve ser entendida como um todo. Alia-se, no trabalho de Umbanda, o álcool, o fumo, a energia proveniente das entidades e espíritos superiores que orientam os trabalhos, a energia presente na própria natureza através do trabalho dos elementais, bem como o ectoplasma retirado dos médiuns durante os trabalhos mediúnicos, possibilitando a cura do consulente necessitado de ajuda. Entender essa prática como apego dos espíritos incorporantes à matéria passa a ser, dessa forma, desconhecimento pueril acerca dos trabalhos magísticos realizados dentro da ritualística da Umbanda. No contato permanente com as entidades que incorporam na Umbanda, passamos a perceber, inclusive, sua preocupação com o uso indiscriminado de fumo ou de cigarros que são comercializados, e seus conselhos para evitarem que seus médiuns tenham seu corpo prejudicado pelo uso de tais ferramentas. É comum pedirem cachimbos com filtro para diminuírem ainda mais a assimilação pelo corpo do médium da nicotina presente em cigarros ou fumo comercializados. Encontramos entidades que pedem a seus “cavalos” que fabriquem seu fumo com ervas naturais, como alecrim, alfazema e outras aliadas ao fumo in natura. Até porque a combinação de tais ervas potencializa os efeitos energéticos, catalisadores, descarregadores e reequilibrantes do perispírito do consulente. Algumas entidades chegam a cuspir em recipientes adequados, a famosa “caixinha”, que fica ao seu lado para neste ato evitar ao máximo a ingestão da nicotina e de outros elementos que não interessam para o trabalho e muito do que vêm pela química industrial.

Com todo o exposto, pode-se perceber que tanto o álcool quanto o fumo são verdadeiras, úteis e necessárias ferramentas de trabalho das entidades que trabalham na Umbanda. Tal fato deve ser estudado e haver orientação precisa durante a doutrinação dos médiuns e assistentes das giras de Umbanda para entenderem com seriedade a real necessidade de haver um trabalho sério e efetivo de esclarecimento para evitar entendimentos errados que levem a denegrir a verdadeira caridade prestada pelas entidades e guias de Umbanda que utilizando das ferramentas que a natureza lhes oferece, levam aos filhos de fé um lenitivo para suas mazelas e dores, na fé de Oxalá.

Fonte: Genuína Umbanda

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